Durante plenária com países-membros, associados e convidados do Brics, na manhã deste domingo (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou com firmeza as recentes declarações do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que ameaçou impor tarifas comerciais extras de 10% a países alinhados ao bloco em posições “antiamericanas”.
Lula classificou a atitude como “irresponsável” e demonstrou indignação com o uso de redes sociais para ameaças diplomáticas:
“Nem deveria comentar, porque não é responsável e sério. Um presidente da República, de um país do tamanho dos Estados Unidos, não pode ficar ameaçando o mundo pela internet”, disse Lula a jornalistas após a sessão.
Apesar da repercussão, nenhum representante dos países presentes ao encontro do Brics mencionou a declaração de Trump, de acordo com o presidente brasileiro.
“Não demos nenhuma importância para isso”, afirmou Lula, reforçando que o foco da plenária foi o fortalecimento da cooperação entre os países e a defesa de um mundo multipolar.
Em declaração oficial divulgada pelo Brics neste domingo, o grupo criticou a “proliferação de ações restritivas ao comércio”, incluindo medidas tarifárias e não tarifárias consideradas incompatíveis com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O documento cita a importância de um sistema multilateral de comércio transparente, aberto e não discriminatório. Fontes do governo brasileiro afirmaram que, com uma OMC plenamente funcional, “seria impensável usar tarifas como ferramenta de intimidação entre países”.
Irritado com o tom da ameaça de Trump, Lula foi direto:
“O mundo mudou, não queremos imperador. Somos países soberanos. Se ele acha que pode taxar, os outros países também têm direito de taxar. Existe a lei da reciprocidade.”
Segundo fontes brasileiras ouvidas pela Reuters, a postura de Trump demonstra justamente o acerto do Brics ao questionar a concentração de poder global e defender uma nova governança multilateral.
“O Brics não surgiu para afrontar ninguém. É um modelo novo de fazer política internacional, mais solidário. Não somos um clube de privilegiados”, concluiu Lula.
Desde sua presidência, Trump tem feito críticas constantes ao Brics, especialmente quando o grupo discute alternativas ao uso do dólar em transações internacionais. Em declarações recentes, o ex-presidente sugeriu que os países que aderirem a uma nova moeda comum fora da influência dos EUA enfrentariam tarifas de 100%.
Embora fontes próximas a Trump tenham sinalizado que as medidas tarifárias não seriam automáticas, a ameaça foi suficiente para gerar reação nos bastidores diplomáticos.
O Brics formado atualmente por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e países associados tem ampliado seu papel na geopolítica internacional, defendendo um mundo multipolar e a reformulação das instituições financeiras e comerciais globais.
A posição do Brasil segue alinhada à defesa de um sistema internacional mais justo, equilibrado e baseado no diálogo entre nações soberanas.