Marabaense desenvolve ferramenta de IA e vence prêmio nacional de combate à corrupção

Giselle Batista, servidora da Unifesspa, criou o Audit.AI e recebeu o Prêmio INAC de Integridade em cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo

20/06/2025 12h28 - Atualizado há 1 mês
Marabaense desenvolve ferramenta de IA e vence prêmio nacional de combate à corrupção
Correio de carajás

Em um cenário cada vez mais moldado pela Inteligência Artificial, uma pesquisadora do interior do Pará se destacou nacionalmente ao transformar dados públicos em ferramenta de integridade. A marabaense Giselle da Costa Batista, servidora e mestranda da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), desenvolveu o Audit.AI, um sistema de IA que rastreia padrões de corrupção em órgãos públicos, e foi premiada em primeiro lugar na categoria "Academia" do Prêmio INAC de Integridade.

A cerimônia foi realizada na última segunda-feira (16), no histórico Theatro Municipal de São Paulo, durante o que é considerado o maior evento popular anticorrupção do país. Ao receber o prêmio, Giselle emocionou o público ao reforçar a importância da ciência e da integridade na construção de uma sociedade mais justa:

“Integridade não é só um valor, é essencial para a transformação”, declarou.

Ela também agradeceu aos orientadores Hugo Kuribayashi e Marcela Alves, professores da Unifesspa e coautores do projeto, que também conta com os pesquisadores Ruan Vieira Rolim de Sá e Pedro Bacelar Moreira.

Ferramenta inovadora de combate à corrupção

O Audit.AI foi desenvolvido como projeto de mestrado no 1º curso de Ciências Forenses do Brasil, oferecido pela Unifesspa. O sistema utiliza Processamento de Linguagem Natural (PLN) e aprendizado de máquina para analisar Processos Administrativos Disciplinares (PADs) e identificar padrões que apontem para atos de corrupção ou má conduta em instituições públicas.

A ferramenta já opera com dados de diversas universidades e institutos federais e tem potencial para ser adotada por qualquer órgão público. Ela detecta riscos como assédio moral e sexual, uso indevido do cargo, desvio de recursos públicos e improbidade administrativa, com base em documentos oficiais e históricos de expulsões de servidores.

Além disso, o Audit.AI traz um chatbot integrado, que permite a usuários interagirem com os relatórios gerados, fazendo perguntas e explorando os dados de forma didática.

“Hoje já existe um manual da CGU sobre como utilizar PADs para análise de riscos. Nosso sistema está sendo adaptado para automatizar essa metodologia e calcular, com base nesses critérios, o nível de risco de cada processo”, explicou Giselle.

Trajetória de quem transforma dados em mudança

Natural de Araguaína (TO), Giselle veio ainda criança para Marabá e se considera filha da cidade. Está há 11 anos como servidora da Unifesspa, atuando no Instituto de Geociências e Engenharias (IGE), e tem formação em Administração. Sua vivência prática como gestora de pessoas a levou a perceber a dificuldade em identificar pontos críticos de corrupção nos trâmites internos.

“Pensei: e se os próprios dados dissessem onde estão os problemas, em vez de eu ter que adivinhar?”, contou.

Foi no mestrado que a ideia ganhou forma e se tornou ferramenta real, desenvolvida com base em experiências concretas e com foco na prevenção e diagnóstico institucional.

Mulheres do Norte ocupando espaços nacionais

Com o Audit.AI, Giselle não apenas contribuiu para a inovação no serviço público, como também representou uma nova imagem da mulher amazônida, nortista e do interior paraense, ocupando espaços que por muito tempo foram negados às mulheres, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia e políticas públicas.

Sobre o Prêmio INAC

O Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) é uma organização nacional, civil e apartidária, fundada em 2015, com foco em pesquisa, políticas públicas, educação e mobilização social contra a corrupção. Criado pelo promotor de justiça Roberto Livianu, o INAC promove ações com base em dados concretos e fomenta a construção de uma cultura de integridade no Brasil.

O prêmio é destinado a iniciativas inovadoras de pesquisadores, jornalistas, gestores públicos e da sociedade civil que se destacam na promoção da transparência e do uso ético dos recursos públicos.


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