Em um cenário cada vez mais moldado pela Inteligência Artificial, uma pesquisadora do interior do Pará se destacou nacionalmente ao transformar dados públicos em ferramenta de integridade. A marabaense Giselle da Costa Batista, servidora e mestranda da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), desenvolveu o Audit.AI, um sistema de IA que rastreia padrões de corrupção em órgãos públicos, e foi premiada em primeiro lugar na categoria "Academia" do Prêmio INAC de Integridade.
A cerimônia foi realizada na última segunda-feira (16), no histórico Theatro Municipal de São Paulo, durante o que é considerado o maior evento popular anticorrupção do país. Ao receber o prêmio, Giselle emocionou o público ao reforçar a importância da ciência e da integridade na construção de uma sociedade mais justa:
“Integridade não é só um valor, é essencial para a transformação”, declarou.
Ela também agradeceu aos orientadores Hugo Kuribayashi e Marcela Alves, professores da Unifesspa e coautores do projeto, que também conta com os pesquisadores Ruan Vieira Rolim de Sá e Pedro Bacelar Moreira.
O Audit.AI foi desenvolvido como projeto de mestrado no 1º curso de Ciências Forenses do Brasil, oferecido pela Unifesspa. O sistema utiliza Processamento de Linguagem Natural (PLN) e aprendizado de máquina para analisar Processos Administrativos Disciplinares (PADs) e identificar padrões que apontem para atos de corrupção ou má conduta em instituições públicas.
A ferramenta já opera com dados de diversas universidades e institutos federais e tem potencial para ser adotada por qualquer órgão público. Ela detecta riscos como assédio moral e sexual, uso indevido do cargo, desvio de recursos públicos e improbidade administrativa, com base em documentos oficiais e históricos de expulsões de servidores.
Além disso, o Audit.AI traz um chatbot integrado, que permite a usuários interagirem com os relatórios gerados, fazendo perguntas e explorando os dados de forma didática.
“Hoje já existe um manual da CGU sobre como utilizar PADs para análise de riscos. Nosso sistema está sendo adaptado para automatizar essa metodologia e calcular, com base nesses critérios, o nível de risco de cada processo”, explicou Giselle.
Natural de Araguaína (TO), Giselle veio ainda criança para Marabá e se considera filha da cidade. Está há 11 anos como servidora da Unifesspa, atuando no Instituto de Geociências e Engenharias (IGE), e tem formação em Administração. Sua vivência prática como gestora de pessoas a levou a perceber a dificuldade em identificar pontos críticos de corrupção nos trâmites internos.
“Pensei: e se os próprios dados dissessem onde estão os problemas, em vez de eu ter que adivinhar?”, contou.
Foi no mestrado que a ideia ganhou forma e se tornou ferramenta real, desenvolvida com base em experiências concretas e com foco na prevenção e diagnóstico institucional.
Com o Audit.AI, Giselle não apenas contribuiu para a inovação no serviço público, como também representou uma nova imagem da mulher amazônida, nortista e do interior paraense, ocupando espaços que por muito tempo foram negados às mulheres, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia e políticas públicas.
O Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) é uma organização nacional, civil e apartidária, fundada em 2015, com foco em pesquisa, políticas públicas, educação e mobilização social contra a corrupção. Criado pelo promotor de justiça Roberto Livianu, o INAC promove ações com base em dados concretos e fomenta a construção de uma cultura de integridade no Brasil.
O prêmio é destinado a iniciativas inovadoras de pesquisadores, jornalistas, gestores públicos e da sociedade civil que se destacam na promoção da transparência e do uso ético dos recursos públicos.